terça-feira, 26 de outubro de 2010

Olhares sobre tela (Elias Balthazar)


Por entre as cores, traços, linhas,
afetos e cubos e beijos sem formas
Seres amarelos e verdes, “loucos”,
“homem, flor e gato”, “bichos do mato”
“mágoas e sombras na esquina”

“São as lembranças” em cores
e formas distorcidas
De meses e anos e das areias do tempo
do “agosto em chamas”

Da estrada, “o viaduto”, incompletos,
esquecidos antes do fim
como o perdido olhar da moça vermelha,
no azul, entre as águas e as “luzes de santo Antonio”

“Trabalhadores da usina”,
“mudam o rio, mas o rio
não muda”...
...os homens...

(Elias Balthazar)

Sou imensamente grato pela visita do amigo Elias a exposição IN, que com seu olhar de poeta soube expressar a essência das pinturas com profunda sensibilidade.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

INConsTANtE RESPONDENDO

Perguntas de Aline S. Vieira

A. - Por que nos seus quadros você não retrata temas de ecologia, da destruição do meio ambiente assim como a gente vê em trabalhos de outros artistas daqui?

M. - Alguns desses temas aparecem de forma sutil em alguns trabalhos mas não se trata do foco principal. Eu resolvi olhar a nossa realidade de outro ângulo. Eu retratei com frequência o Rio Madeira mas inserido em outros contextos como é o caso da pintura RIO MADEIRA, ENTARDECER, REFLEXÕES onde a beira do rio figura como um lugar de pensamentos e tranquilidade ao anoitecer, em outro ele aparece como paisagem dominante... no caso dos demais pintei cenas do cotidiano porque acredito que são importantes de serem registradas, são atuais e contém também poesia e crítica. Acredito que podemos olhar ao nosso redor aqui em Porto Velho e pintar temas bem interessantes sem precisar recorrer a floresta, aos animais, aos índios etc.

A. - O que você espera em relação a venda dessas telas?

M. - Bem, eu sempre pintei por puro gosto, nunca tive grandes aspirações em viver de arte. Algumas vezes pensei em viver de pinturas mas não deu muito certo, depois disso resolvi deixar a pintura apenas como hobby. E no caso dessa exposição, aceitei o convite do pessoal da coordenação de cultura do SESC para mostrar ao publico o meu trabalho sem pensar muito nesse lado de venda. Ficaria contente se vendesse alguns mas o objetivo principal dessa exposição é mostrar meu trabalho ao público daqui.

In CoNstaNte - Respondendo

Perguntas de Edna Arruda

E. - Alguns atribuem a capacidade de desenhar, ou tocar um instrumento, ou outras habilidades artísticas a algo chamado "dom". Você é da mesma opinião?

M. - Olha, é uma pergunta difícil de responder, ao menos pra mim. Eu diria que todos nós temos interesse ou fascínio pela arte, mas isso do "dom" é algo quase espiritual... eu acredito mais no amor pela arte, eu chamaria "dom" de AMOR mesmo. Porque esse sentimento é um interesse mais do que o normal, é mais do que simplesmente achar algo belo, é querer fazer arte. Quando se nutre esse sentimento então somos impulsionados a aprender, a experimentar, a trabalhar em cima disso... e acho que isso acontece com a maioria das ocupações... quando a gente faz o que gosta, o que ama, o trabalho ganha um sentido maior... com a pintura não é diferente, no meu caso me levou a estudar, aprender com paciência, sem pressa e realizar esse sonho de expor meus trabalhos.

E. - Aqui nós temos muitos pintores que dão cursos e tudo mais. Você aprendeu tudo sozinho. Foi opção sua?

M. - Olha, quando se desenha e pinta desde cedo a gente vai como que se habituando a fazer as coisas sozinho, pelo menos comigo foi assim... então, ao longo dos anos fui aprendendo pela observação de obras de pintores famosos e também fazendo meus ensaios.

E. - No caso dessa exposição, como você chegou ao tema IN CONSTANTE MENTE TRAÇO COR AÇÃO?

M. - Esse nome se deu mais pelo gosto que tenho pela poesia, a brincadeira com as palavras nos leva a vários sentidos, então esse tema pode nos levar a vários conceitos, juntar e separar esssas palavras é algo que fiz mesmo pra tornar o tema mais poético. Além disso a própria arte não possui um padrão CONSTANTE, ela é livre, pode ser CONSTANTE ou INCONSTANTE, IN também quer dizer INTERIOR, ÍNTIMO... MENTE pode se referir a algo MENTAL ou a alguem que MENTE ou mesmo ser o complemento de CONSTANTEMENTE, ou seja, algo contínuo como a busca pela expressão através da arte.

E. - De onde saiu a inspiração em telas como MÁGOA e SÃO AS LEMBRANÇAS?

M. - De experiências pessoais mesmo. Todos nós somos magoados ou violentados em nossos íntimos por experiências amargas e com o passar do tempo mesmo a lembrança de tais experiências ainda tem um peso significativo... no caso destes trabalhos há a expressão desse conceito na forma de figuras e ícones. É uma forma de falar de mim.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Caminhos

O beijo

O louco

Viaduto em construção

Rio Madeira, entardecer e reflexão

As luzes de Santo Antônio

Trabalhadores da usina

Homem, flor e gato

Bicho do mato

Mágoa

Meninos jogando bola no areal

São as lembranças

Homem que devora o homem

Sombras na esquina - reflexões sobre o medo e a violência na cidade

Agosto em chamas

Rio, barrranco, trilho e concreto

O menino e o cachorro

Mudam o rio, mas o rio não muda

Rio Madeira, verão de 2010

Memória - meu balanço no abacateiro

in consTantE Mente trAço cor ação - PINTURAS

CAMINHOS
- a pintura revela uma série de linhas e figuras indefinidas, fora a figura humana mais evidente e no centro da tela, as demais formas parecem não ter nexo. No todo representa os Caminhos que percorremos durante nossa vida com suas surpresas. É uma forma de dizer que na vida existem é repleta do inesperado.

O BEIJO
- Uma tela que revela ternura entre duas pessoas. As forma retas e misturadas são cubistas. Harmonia entre tons e nas duas figuras centrais cores mais claras para dar destaque sobre o fundo um pouco mais escuro

O LOUCO
- Uma crítica à omissão de muitos diante do sofrimento de pessoas com problemas mentais. A pintura mostra uma figura central contorcida em agonia nas ruas da cidade. Prédios e construções estão distorcidos como se pudéssemos ver da forma como um louco vê. Ao lado figuras humanas continuam seu caminho indiferentes a este sofrimento. Ao lado do louco apenas cães que o lambem e se tornam seus companheiros de abandono.

VIADUTO EM CONSTRUÇÃO
- Retrata o amanhecer com céu ainda escuro e o momento da obra de um viaduto na rotatória da rua Campos Sales e BR 319. As formas utilizadas pelo artista indicam a agressividade da obra que adentra o solo e parecem dois gigantescos paredões. Próximos a ele há luzes e figuras que passam, carros, humanos etc. Os vergalhões lembram garras.

RIO MADEIRA, ENTARDECER E REFLEXÃO
- Aqui o artista revela seu encanto com o rio e o quanto seu entardecer já bem avançado pode remeter a reflexão. A forma feminina indica uma serenidade que o artista desejar ver na mulher junto com sua beleza. Ao longe há Santo Antonio com as luzes da usina.

AS LUZES DE SANTO ANTÔNIO
- Rodeado pela escuridão vemos a intensidade das luzes da construção da usina no rio Madeira. Acima, as várias formas coloridas, semelhantes a nuvens, indicam que a beleza selvagem e encanto do rio e das pedras que ali existiam ainda moram em nossas lembranças e quando olhamos para essas luzes, com a nossa imaginação ainda podemos vê-las.

TRABALHADORES DA USINA
- Logo cedo o artista viu estes homens desconhecidos e de lugares distantes assentados esperando a condução para a obra. O sol ainda não nasceu e as luzes da cidade ainda são intensas.

HOMEM, FLOR E GATO
- Momento de angústia do artista frente a dificuldades pessoais, a figura da tela chora e segura, como que obrigada, uma flor que o sangra a mão indicando atitudes dolorosas tomadas. O gato é uma figura que indica o orgulho, tenacidade, frieza, agressividade. As cores revoltas se chocam mostram o intenso momento de confusão e dor.

BICHO DO MATO
- Apresenta vários elementos da floresta, índios, boto, anta, cobra, árvores etc. O artista tem sangue indígena e quis retratar nessa tela seu encanto com esses elementos da mata.

MÁGOA
- Duas figuras em momento de intensa luta de emoções. A figura azul masculina simboliza a pessoa magoada, esta tem seu peito atravessado pelo punho da outra, seu coração sangrando é arrancado do peito. Atrás, a figura em amarelo, a feminina, tem uma postura determinada e fria ao atingir a da frente. O fundo está revolto indicando a luta de emoções.

MENINOS JOGANDO BOLA NO AREAL
- Retrata uma cena cotidiana dos meninos de Porto Velho, em vários lugares da cidade há estes areais onde as crianças jogam bola mesmo com sol a pino. Ao fundo, casas da periferia.

SÃO AS LEMBRANÇAS
- Aqui o artista mostra a força angustiante das lembranças que torturam mesmo a longo prazo. Figura surreais estão ao fundo, uma figura feminina que foge indicando frustrações amorosas, um gato matando um pássaro indicando alguma agressão covarde e inesperada, uma casa isolada mostra solidão e um pássaro sobre ela remete a um agouro. Formas lembram metais retorcidos para sentimentos frios e situações intransponíveis. A figura se contorce num choro onde as lágrimas fazem os olhos sumirem, boca escancarada em desespero.

HOMEM QUE DEVORA O HOMEM
- Duas figuras principais para essa pintura. Uma delas um monstro que representa todo uma forma do homem se portar com sua ganância, violência e insensibilidade. Em suas mãos ele se alimenta do espírito, do alento, da força de vida do próprio ser humano vencido.

SOMBRAS NA ESQUINA – REFLEXÕES SOBRE O MEDO E A VIOLÊNCIA NA CIDADE
- No centro da tela uma figura arredia e assustada, ao seu redor sombras e figuras assustadoras, fantasmas, ameaças, noite, perversidade... coisas comuns numa cidade onde o mal pode nos atingir a qualquer momento, em qualquer lugar.

AGOSTO EM CHAMAS
- Aqui o céu é representado em cinza, o rio some, a mata some sob uma cortina de fumaça advinda de queimadas. Os seres humanos estão representados em figuras inumanas, deformadas pela poluição, de suas bocas exala a fumaça que já respiraram, a paisagem é desolada.

RIO, BARRANCO, TRILHOS E CONCRETO
- Paisagem cubista da cidade de Porto Velho.

O MENINO E O CACHORRO
- Pintura terna onde o artista revela seu carinho pelos animais. O menino abraça o cão e ambas as figuras tem expressões faciais tranqüilas de afeto mútuo. Cores quentes mostram a intensidade do sentimento.


MUDAM O RIO, MAS O RIO NÃO MUDA
- Aqui está expressa a idéia de que a essência do Rio Madeira são todas as coisas que foram reunidas nele e em torno dele ao longo dos anos e nada pode mudar isso. São retratadas figuras que simbolizam a mitos do lugar, as crendices, a cultura do povo ribeirinho que estão estampadas como que sobrevoando o céu ou à beira dágua. O rio é retratado sem água, cheio de estruturas metálicas pelas obras da barragem, mas mesmo assim na opinião do pintor nada muda a essência ou encanto deste.

RIO MADEIRA, VERÃO DE 2010
- Paisagem retratando o verão de 2010 no Rio Madeira, com seus barcos, flutuantes, o céu azul e sol forte.

MEMÓRIA – MEU BALANÇO NO ABACATEIRO
- Lembranças do artista por ocasião de sua infância na rua Prudente de Morais. A casa humilde de madeira, o quintal, céu azul e as árvores, entre elas uma papoula, e a brincadeira solitária no balanço amarrado no galho do abacateiro.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

IN

O lado IN é o INverso de algo que é, talvez do que seria ou do que foi mas agora é IN. O IN retorna as coisas ou as impede. O que seria CONSTANTE se não fosse o IN... agora não é mais. A MENTE mente? O que é da MENTE é de dentro, é o INvólucro de todo eu, está em estado MENTAL, pertence à MENTE, que ora é CONSTANTE e outra é IN(CONSTANTE) e se num momento o que está na MENTE deixa de ser CONSTANTE, quem a vê pode deixar de perceber que agora ela MENTE. A mente faz um TRAÇO, um TRAÇO INtimo, INterior... eu TRAÇO de forma CONSTANTE e de forma IN(CONSTANTE)... Daí vem a COR, INdefinida as vezes na MENTE, mas é TRAÇO de AÇÃO, pois ela é o agora, é COR é AÇÃO da MENTE INCONSTANTE... vermelha como a COR do corAÇÃO... que é CONSTANTE e é IN.

iN cOnsTante mEnte Traço cOR açÃO

Nessa exposição apresento 20 pinturas, 18 feitas exclusivamente para esse evento. Dois destes trabalhos (O Beijo, Caminhos) datam do início de minhas primeiras experiências com tinta e tela em 1994. Os temas são variados mas o universo é sempre o mesmo: a vida, a cidade, minha forma crítica de ver as coisas.
Falando mais sobre a essência dos trabalhos, devo dizer que são fruto de uma gama de sentimentos e observações da vida. A vida é um evento onde nos movemos, interagimos... as vezes com escolhas, outras vezes sem, mas sempre haverá algo a dizer, seja a vida mais vazia de todas, seja boa ou ruim, de momentos a momentos, altos e baixos. Assim as pinturas dessa exposição falam do que vejo e sinto, do que penso, do que ficou do passado... Nela não há uma visão de futuro, apenas constatações do que a vida é no momento, apenas.

Impresso de divulgação



Desenvolver um impresso para uso pessoal é uma tarefa complicada, pelo menos para mim, que olhei, fiz, refiz, apaguei e reconstrui tudo do zero ao cem e voltei umas cem vezes. Mas ai esta e claro com a opinião de outros pude concluir sem mais dificuldades. O que sempre digo a respeito do trabalho como designer é que ele é um filho do meu trabalho com arte, tipo um lado útil de sobrevivência onde a maioria dos artistas não vivem exclusivamente de sua arte.